Se puder, dê uma olhada num pátio de pré-escola durante o
recreio. Você verá vários pequeninos e pequeninas fingindo que são um monte de
coisa: astronautas, jogadores de futebol, empresários, super-heróis,
cientistas, mães e pais, personagens de filmes, desenhos e seriados... Ainda há
certo preconceito com as brincadeiras que envolvem somente a imaginação, mas sabemos
que esse tipo de brincadeira não só é saudável, como desenvolve a criatividade
da criança.
O faz-de-conta é marcado por um diálogo que a criança
estabelece com seus parceiros e mesmo com bonecos. Ele requer constante
negociação de significados e de regras que regem uma situação conforme as
crianças assumem papéis, o que faz com que o desenrolar do enredo construído
pelas interações das crianças seja sempre imprevisível. Com isso a brincadeira
cria novidades.
Por meio do brincar de faz-de-conta, as crianças buscam
superar contradições, motivadas pela possibilidade de lidar com o acaso, com a
regra e a ficção, e pelo desejo de expressar uma visão própria do real, embora
por ele marcada. Na linguagem criada no jogo simbólico, dentro de uma atmosfera
“como se fosse assim ou assado”, a criança recombina elementos perceptuais,
cognitivos e emocionais, cria novos papéis para si e reorganiza cenas
ambientais, criando espaço para a fantasia
Brincadeiras de faz de conta que envolvem a imaginação são parte essencial
do desenvolvimento infantil, fomentando as primeiras noções de empatia e de relações
interpessoais. Existem crianças que não percebiam um amigo imaginário como algo
interno, mas como algo externo. Elas eram ‘forçadas’ a discutir, negociar e
entender as coisas da perspectiva desse amigo , “não há nada de mal nisso. Um
amigo imaginário não vai distorcer a percepção da criança em relação ao que é
real. Com o tempo, ela vai perceber que ele era só parte da imaginação.
Incentivar as crianças a explorar a imaginação é importante porque, durante
estas brincadeiras, elas interpretam seus papeis, mas também manipulam as ações
e reações das outras ‘pessoas’ que fazem parte do universo que criaram. Assim,
aprendem que as coisas podem ser vistas de diversas perspectivas e desenvolvem
um senso de empatia geralmente mais avançado que o de crianças que interagem
entre si. Numa brincadeira entre duas
crianças, cada uma defende seu próprio ponto de vista, por exemplo. Num mundo
imaginário, a criança que está brincando defende todos.
Além disso, este tipo de brincadeira também ajuda a explorar
o mundo e suas complexidades, mesmo que de maneira tímida e ainda primitiva. Se
uma criança finge estar no papel do pai ou da mãe, passa a entender as
preocupações que eles têm. Se é um astronauta, é também o centro de controle,
então compreende relações de cumplicidade e autoridade. Tudo isso de maneira
caricata, é claro, mas muito importante.
Então, da próxima vez que você vir seus filhos, irmãos mais
novos, primos ou qualquer outra criança brincando sozinha ou fingindo ser
alguma coisa, incentive-a, faça perguntas e estimule-a a explorar os universos
que está criando.
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