Como é possível alguém conseguir passar horas focado no trabalho, assistindo televisão
jogando games ou até mesmo cuidando de planilhas e, ainda assim, não conseguir prestar
atenção em outras coisas? Uma pessoa assim poderia ter déficit de atenção ou seria puro
desinteresse por todas as outras coisas além daquilo que gosta? Esta é uma pergunta bem
comum, especialmente por parte dos pais, que não se conformam com os filhos serem ótimos
jogadores de games, concentrados e na hora da tarefa de casa ou na escola conseguem ser,
bem distraídos.
Para entender plenamente o que ocorre no TDAH - Déficit de Atenção, é preciso conhecer
também sobre o Hiperfoco. Muitas pessoas pensam que ter déficit de atenção significa
incapacidade de concentração. Porém isto não é verdade. Quem sofre com TDAH pode sim se
concentrar, até mesmo ter hiperfoco. Então, qual é o problema no TDAH?
O TDAH é uma alteração na capacidade de controle voluntário da atenção. Tanto alguém com
déficit de atenção quanto uma pessoa comum conseguem prestar atenção. A diferença é que a
pessoa comum pode, voluntariamente, controlar o foco da atenção. Quem tem TDAH fica
dependente do tipo de estimulação externa ou interna - o que acontece ao redor ou nos
pensamentos faz fechar o foco (concentrar) ou dispersar. Em outras palavras, ele até consegue
se concentrar um pouco, mas ele não consegue manter a atenção, principalmente em algo que
é enfadonho e repetitivo e que não tenha nenhuma motivação externa ( lembrando que o
portador de TDAH tem dificuldade em ter uma motivação interna).
Hiperfoco não é incompatível com TDAH, pelo contrário. O controle atencional está mais
diretamente ligado à experiência de prazer e do que consegue manter o foco em função do
tipo de estimulação (mais agitada, mais empolgante). Como o controle voluntário esta
enfraquecido, a pessoa não consegue exercer autocontrole - que é, conseguir fazer o que ela
sabe conscientemente que deveria fazer.
Também por isto, o foco é bastante rígido. Quando se está em hiperfoco, pode-se permanecer
neste estado por longos períodos, até que por um efeito de cansaço, exaustão ou frustração
(normalmente, uma combinação disto tudo) acabe enfraquecendo o controle exercido pelos
centros sub-corticais.
Entrar em hiperfoco pode ser excelente para algumas pessoas. Muitos portadores de TDAH
trabalham em áreas ou se dedicam a atividades com as quais se sentem muito envolvidos e
motivados. Isto lhes permite chegar a níveis muito superiores de engajamento e envolvimento,
embora ainda assim não exatamente no lugar e hora de sua preferência.
O que fazer para aproveitar o Hiperfoco ao máximo?
Para tirar do hiperfoco o que ele tem de melhor, são necessárias duas coisas. Primeiro, saber
quais situações o induzem (mais frequentemente, pois não é sempre que acontece) e criar
estratégias para facilitar a entrada. É comum, por exemplo, adultos terem maior dificuldade
para iniciar algumas tarefas repetitivas - e depois que iniciam, seguem com a maior facilidade.
Neste caso, entender como seu cérebro funciona ajuda muito. Diminua as distrações iniciais,
deixe tudo pronto ao redor para não precisar interromper e apenas comece depois de algum
tempo, o hiperfoco positivo assume o controle.
Também é bem importante treinar a Flexibilidade Cognitiva. Porque isso é importante? Ter um
hiperfoco em excesso, por muito tempo, acaba deixando a pessoa exausta e às vezes até
mesmo "enjoada", o que pode aumentar a resistência a iniciar, da próxima vez. Por isso é
necessário desenvolver essa flexibilidade cognitiva, que irá te ajudar a alternar entre um
assunto e outro, ou entre uma atividade e outra sem causar a exaustação e a possível
resistência futura.
Débora Lima de Oliveira
Neuropsicóloga e Psicóloga Clínica
CRP:06/123470
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