Mindhunter: quando o crime encontra a Psicologia



Estreou recentemente “Mindhunter”, a nova produção da Netflix sobre investigação policial. A minissérie de 10 episódios tem a maioria deles dirigidos por ninguém menos que David Fincher (Clube da Luta, Seven, House of Cards), é diferente das demais do gênero porque aprofunda em aspectos psicológicos de assassinos reais que aterrorizaram os Estados Unidos e marcaram a história.

Ambientada nos anos 70, mostra a transição do FBI em aceitar a introdução da psicologia nas investigações. Aposta em diálogos muito bem construídos que nos instigam a refletir e fazem referências à grandes pensadores.

Havia até então a suposição de que um Serial Killer (termo que ainda não existia) seria apenas louco, e ponto. Sem que investigassem a fundo seu passado, ou buscassem uma causa psicológica que os levaram a cometer tais atrocidades. Aí que a série te prende tanto, porque aos poucos lançam novas teorias e histórias de vida.

O termo foi utilizado pela primeira vez por Robert Ressler em 1970, agente aposentado do FBI e grande estudioso do assunto. Ele fez parte de uma unidade do FBI, a qual a série retrata, chamada Behavioral Sciences Unit (Unidade de Ciência Comportamental), que tinha sua base em Quantico, Virgínia.

Esta unidade deu continuidade ao trabalho do psiquiatra James Brussell, pioneiro no estudo da mente de criminosos. O BSU começou montando uma biblioteca de entrevistas gravadas com Serial Killers já condenados e presos.

Os investigadores iam até as penitenciárias em diversos estados americanos, entrevistando os assassinos em série mais famosos do mundo, como Ed Kemper, Charles Manson e David Berkowitz. Tentavam entrar em suas mentes e compreender o que os impulsionava a matar.

Detalhes de todos os crimes americanos eram enviados a esta unidade, e os “Mindhunters” (caçadores de mentes), na série interpretados por Jonathan Groff (Holden Ford) e Holt McCallanny (Bill Tench), procuravam por pistas psicológicas em cada caso.

Através dessas entrevistas e do que viam em fotos das cenas dos crimes, eles desenvolveram a habilidade de descrever suspeitos e suas características de forma impressionante.

Conheça a história real sobre os Mindhunters.

Holden Ford

O líder dos Mindhunters é baseado em John E. Douglas, o autor do livro Mindhunter: Inside the FBI’S Elite Serial Crime Unit. Ele já serviu de inspiração para Jack Crawford em Dragão Vermelho e O Silêncio dos Inocentes.

Douglas redefiniu investigações de assassinatos graças à informações obtidas através de entrevistas com David Berkowitz, John Wayne Gracy, Charles Manson, Richard Speck e Edmund Kemper.

Bill Tench

Tench foi inspirado em Robert K. Ressler, um agente do FBI nascido em Chicago, que se juntou ao Bureau em 1970. Ressler também é agente da BSU e criador do termo Serial Killer. Ele também entrevistou assassinos nos anos 80 e desenvolveu a primeira base de dados de informática de crimes não solucionados, o que ajudou a capturar os criminosos. Trabalhou em casos importantes, incluindo pesquisas para Jeffrey Dahmer e Ted Bundy. Ele morreu em 2013.

Dra. Wendy Carr

A psicóloga Anna Torv é inspirada na Dra. Ann Wolbert Burgess. Ela realmente trabalhou ao lado de Ressler e Douglas na BSU, os quais são creditados ao livro “Homicídio Sexual: Parões e Motivos”, um estudo inovador de assassinos em série publicados em 1988. Ela foi pioneira no tratamento de trauma e vítimas de abuso, co-fundadora de um programa de apoio à vítimas de violência sexual no Boston City Hospital. Ela ainda dá aulas no Boston College.

Mas afinal, você sabe o que é um Serial Killer?

Serial Killers são indivíduos que cometem uma série de homicídios durante algum período de tempo, com pelo menos alguns dias de intervalo entre eles. O espaço de tempo entre um crime e outro os diferencia dos assassinos de massa, indivíduos que matam várias pessoas em questão e horas.

O motivo do crime, ou exatamente, a falta dele, é extremamente importante para a definição de um assassino como serial. Ele não procura exatamente uma gratificação com o crime, apenas exercita seu poder e controle sobre outra pessoa.

Eles são divididos em quatro tipos:

A psicóloga Anna Torv é inspirada na Dra. Ann Wolbert Burgess. Ela realmente trabalhou ao lado de Ressler e Douglas na BSU, os quais são creditados ao livro “Homicídio Sexual: Parões e Motivos”, um estudo inovador de assassinos em série publicados em 1988. Ela foi pioneira no tratamento de trauma e vítimas de abuso, co-fundadora de um programa de apoio à vítimas de violência sexual no Boston City Hospital. Ela ainda dá aulas no Boston College.

a) Visionário: é um indivíduo completamente insano, psicótico. Ouve vozes dentro de sua cabeça e as obedece. Podem também sofrer alucinações ou ter visões.

b) Missionário: socialmente não demonstra ser um psicótico, mas internamente tem a necessidade de “livrar” o mundo do que julga imoral ou indigno. Este tipo escolhe um certo grupo para matar, como prostitutas, homossexuais, etc.

c) Emotivo: matam por pura diversão. Dos quatro tripos estabelecidos, é o que realmente tem prazer de matar e utiliza requintes sádicos e cruéis.

d) Libertino:
são assassinos sexuais. Matam por “tesão”. Seu prazer será diretamente proporcional ao sofrimento da vítima sob tortura e a ação de torturar, mutilar e matar lhe traz paz sexual. Canibais e necrófilos fazem parte deste grupo.

Aspectos gerais e psicológicos

Existem vários aspectos psicológicos que eles têm em comum, tanto no que diz respeito à sua ação quanto ao seu passado.

Na infância, nenhum aspecto isolado define a criança como um Serial Killer em potencial, mas a chamada “terrível tríade” parece estar presente no histórico de todos eles: enurese (incontinência urinária sem conhecimento, micção involuntária) em idade avançada, abuso sádico de animais ou de outras crianças, destruição de propriedade e piromania.

Apesar de não fazer parte da “terrível tríade”, o isolamento familiar ou social é relacionado pela grande maioria deles. Quando uma criança é isolada ou deixada sozinha por longos períodos de tempo e com certa frequência, a fantasia e os devaneios passam a ocupar o vazio da solidão.

A masturbação compulsiva é consequência altamente previsível. Para pessoas normais, as fantasias podem ser usadas como fuga ou entretenimento. É temporária, e existe a compreensão por parte do indivíduo de que é completamente irreal.

Para o Serial Killer, é complexa e compulsiva. Acaba se tornando o centro se seu comportamento. O crime é a própria fantasia do criminoso, planejada e executada por ele na vida real. A vítima é apenas um elemento que reforça a fantasia.

Abuso na Infância

A grande maioria dos Serial Killers (cerca de 82%) sofreu abusos na infância. Esses abusos foram sexuais, físicos, emocionais ou relacionados à negligência e/ou abandono.

Os laços familiares na infância de um ser humano vão servir de mapa para todas as suas relações. Entre 3 e 9 meses de vida, a criança cria laços com seus pais, que devem preocupar-se em construí-los de forma profunda. A falta desses laços é o grande fator do desenvolvimento da psicopatia.

Entre os assassinos em série estudados, esta é outra característica encontrada com facilidade: seu tenso e difícil, às vezes até inexistente, relacionamento familiar.

Esses aspectos podem ser identificados nos assassinos representados na série.




Um comentário:

  1. Artigo Interessante, me ajudou a compreender melhor acerca da série e sobre Serial Killers.

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