Psicólogos da Universidade de Chicago estudaram o que acontece com
pessoas que se sentem sozinhas de forma permanente. John Cacciopo,
professor do Centro de Neurociências Cognitivas e Sociais, e mais dois
colegas examinaram 230 pessoas ao longo de onze anos. No início do
estudo, essas pessoas tinham entre 50 e 68 anos de idade e, ao fim,
entre 61 e 79 anos.
No estudo, publicado na revista especializada Personality and Social Psychology Bulletin, ficou
comprovado que as pessoas se tornaram egocêntricas por permanecerem
sozinhas durante tantos anos. Quem se sente solitário e tem poucos
relacionamentos gratificantes acaba por se concentrar em si mesmo.
Os psicólogos também descobriram que, ao contrário, aqueles que já no
início do estudo eram mais egocêntricos do que os outros, se sentiam
frequentemente ainda mais sozinhos anos depois. "Quem se concentra muito
em si corre o risco de ficar preso no sentimento de solidão no longo
prazo. E o solitário tende a girar mais e mais em torno de si com o
passar do tempo. É um círculo vicioso", concluíram os pesquisadores.
Os
psicólogos deixaram claro que, em princípio, a solidão não é algo
negativo, desde que não dure muito tempo. Do ponto de vista evolutivo é
até bom se sentir sozinho. Assim como a dor física sinaliza que a pessoa
deve cuidar do seu corpo, o sentimento de solidão alerta que a pessoa
precisa cuidar de suas relações sociais. O problema começa quando a
solidão se estabelece na vida da pessoa.
Em seus estudos em
diferentes países, Cacciopo descobriu que, em média, cerca de 30% a 40%
das pessoas se sentem sozinhas. A população de solteiros nos Estados
Unidos é hoje 30% maior do que em 1980.
No Brasil, o número de
pessoas morando sozinhas não é tão alto, mas também cresceu. Segundo
dados do IBGE, em 2005 cerca de 10% dos lares brasileiros abrigavam
pessoas vivendo sozinhas. Em 2015, esse número saltou para 14,6%.
A
região metropolitana com maior proporção de pessoas morando sozinhas em
2015 era Porto Alegre, com 19,3% dos lares. Em seguida, vinha a região
metropolitana do Rio de Janeiro, com 19%. São Paulo aparece com 14,9%.
Subir ao altar sozinha
Em
meio a esse contexto, vem ganhando força a chamada sologamia, o
casamento consigo mesmo. O número de mulheres que vêm dizendo "sim" a si
mesmas está aumentando consideravelmente nos EUA e no Japão.
Nos
Estados Unidos, a moda de jurar amor eterno por si mesmo já existe há
alguns anos, mas vem se intensificando. No país asiático, mulheres
solteiras ainda não são consideradas membros plenos da sociedade. Até
por isso, muitas pagam o equivalente a 7 mil reais para casar consigo
mesmas.
Em geral, mulheres que se dedicaram aos estudos e à
profissão, mas que sonhavam em um dia se casar, se vestem de branco,
sobem ao altar de braço dado com o pai e, finalmente, colocam uma
aliança na mão esquerda. Mas, em tempos de inflação de dates pelo Tinder, não há um noivo ao lado delas.
O solo wedding ainda
não é reconhecido nem pela igreja nem pelo cartório, mas, para mulheres
que vivem com o estigma de não terem sido "escolhidas", esta é uma
maneira de lutar contra o patriarcado e as convenções sociais.
"As pessoas estão medrosas e cansadas"
O
filósofo Luiz Felipe Pondé afirma que a sociedade sempre inventa uma
moda para dar um título a um comportamento. "À dificuldade de partilhar a
vida com uma pessoa, agora se dá o nome de single. Não é mais solteiro ou sozinho, é single", aponta. "Para
viver com alguém, você tem de fazer concessões, precisa ser corajoso,
tem de investir na pessoa com todos os riscos que o 'investimento' traz.
E as pessoas estão medrosas e cansadas."
Quanto ao casamento
consigo mesmo, Pondé é taxativo: "Chegamos ao cúmulo da entropia afetiva
da humanidade." O filósofo vê nessa ritualística algo muito pior do que
alguém exigir o direito de casar com seu cachorro. "Porque pelo menos o
cachorro é outro ser vivo. Casar consigo mesmo é mais ou menos o
direito de me declarar klingon, raça de alienígenas da série Star Trek",
critica.
"Hoje, as pessoas querem dizer que escolhem o sexo, a
raça, assim como escolhem o desodorante. Tem gente que diz que é de
outro planeta. Eles estão em missão na Terra e querem ser reconhecidos
como tal. É o transgênero, o transracial e o transplanetário. Agora
existe a pessoa que exige o direito de casar consigo mesmo", diz.
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