Por André Cabette Fábio
“Eu atraso todos os dias no
trabalho. Faço pequenas coisas aleatórias que demoram de 5 a 10 minutos. Na
internet. No banheiro. Na cozinha. Deus sabe o que acontece, mas todo dia eu
chego no trabalho 9h20. E isso ocorre há anos”
Esse post anônimo do fórum de
discussões Reddit resume um problema enfrentado por muita gente na batalha
diária entre trabalho e atividades paralelas, como discussões no Facebook,
jogos on-line, um pulo naquele encontro de amigos e devoradores de tempo em
geral: a procrastinação.
A palavra quer dizer adiamento,
delonga. Para quem sofre com o problema cotidianamente, em geral consiste em
trocar a execução de uma tarefa importante, mas pouco prazerosa, por pequenas
distrações.
O hábito de perder o horário para
o trabalho, apesar de ter consciência sobre o sofrimento que essa atitude pode
gerar, mostra como pode ser difícil deixar de procrastinar. A prática pode
servir para adiar atividades mais prosaicas, como arrumar o quarto ou responder
a um e-mail. Mas também outras mais relevantes, como terminar um
relacionamento, escrever a dissertação de mestrado ou dar os passos para mudar
de carreira.
Além do estresse cotidiano de
chegar atrasado, a procrastinação pode tornar irrealizáveis atividades
complexas que exigem constância e persistência, como aprender a tocar um
instrumento, ou finalizar um livro. Os resultados são: frustração, baixa
autoestima e uma gaveta abarrotada de projetos não realizados.
De onde vem a procrastinação?
De acordo com o professor Hélio
Deliberador, do departamento de psicologia social da PUC (Pontifícia
Universidade Católica) de São Paulo, a procrastinação vem da dificuldade de
elencar e agir de forma prática de acordo com prioridades. Essa dificuldade é
agravada pela oferta de distrações do mundo digital.
“Esse adiamento constante é um
mal de nosso tempo, onde as pessoas têm várias maneiras de se perder. Elas
deixam de fazer um planejamento adequado de suas vidas e se perdem em
atividades secundárias” Hélio Deliberador (Professor do departamento de psicologia
social da Pontifícia Universidade Católica)
Medo de falhar
Uma causa de fundo constantemente
associada à procrastinação é o medo de falhar. Segundo a psicóloga Sally-Anne
McCormack, esse é o motivo pelo qual perfeccionistas são com frequência
procrastinadores.
“Perfeccionistas são grandes
procrastinadores porque querem que tudo seja perfeito. Vão evitar realizar uma
tarefa para a qual tiveram duas semanas até a noite anterior ao fim do prazo,
para poderem dizer: ‘claro que eu não consegui um resultado 100%. Eu não tive
tempo o suficiente para fazê-lo’" Sally-Anne
McCormack - Psicóloga
Procrastinador indeciso
Outro perfil comum de
procrastinador é o procrastinador indeciso: aquele que adia, de propósito, a
tomada de uma decisão. De acordo com Joseph D. Ferrari, psicólogo da
universidade de DePaul, em Chicago, e autor de livros sobre a procrastinação, a
indecisão é outra forma de justificar um fracasso.
“Claro que compilar fontes de
informação é útil e produtivo, mas algumas pessoas parecem ser incapazes de
tomar decisões - esses são os procrastinadores mais sérios. Eles deixam que
outros decidam por eles, para que não haja culpa a ser atribuída a eles” Joseph Ferrari- Professor de psicologia adaptativa da DePaul
University, em Chicago e autor de livros sobre a procrastinação.
Culpa e estresse
Pequenos prazeres, como assistir
a uma série na Netflix ou conversar com amigos no Facebook, evitam
momentaneamente o estresse. Mas de forma parcial. Em geral, o procrastinador
sabe que está apenas desviando do
trabalho da faculdade, da noite de estudos ou do processo de se arrumar para o
trabalho e se sente culpado por isso. Mesmo na hora em que são vividos, esses
prazeres são maculados pelo remorso.
Para quem se atrasa
constantemente com a procrastinação, o sentimento é de que o tempo não basta.
De que a vida é uma correria constante. No
longo prazo, o sofrimento é maior, seja por entender que o tempo foi
desperdiçado em uma tarefa improdutiva e pouco prazerosa, seja pelo estresse de
não entregar o trabalho exigido.
“Muitos não veem a procrastinação
como um problema sério, mas como uma tendência comum a ser preguiçoso ou
ocioso. Mas é muito, muito mais. Para os procrastinadores crônicos, não é uma
questão de administração de tempo - é um estilo desajustado de vida” Joseph
Ferrari - Professor de psicologia
adaptativa da DePaul University, em Chicago e autor de livros sobre a
procrastinação
Como lidar com a procrastinação
Para mudar seus hábitos, o
procrastinador precisa treinar a própria mente a encarar as coisas de uma outra
forma, um processo que pode demorar meses.
“Você literalmente tem que
treinar a sua mente a lidar com as coisas de uma forma diferente do seu padrão
- então você tem que estar preparado para realizar esse investimento” Guy Wich
- Psicólogo e autor de ‘Primeiros-socorros emocionais’
Buscar um psicólogo ou um
psiquiatra são recomendáveis para os casos de procrastinadores crônicos, afirma
Deliberador, da PUC. Segundo Sally Anne McCormack, quem deseja parar de
procrastinar deve:
EVITAR DISTRAÇÕES
Uma boa forma de evitar
procrastinação é evitar distrações. Se for estudar, limpe sua mesa e se
comprometa a não fazer paradas para um lanche, por exemplo. Se for difícil
criar um ambiente para a concentração em casa, vá para outro local, como uma biblioteca
pública, por exemplo.
DIVIDIR SEUS PROBLEMAS
Um dos motivos pelos quais
procrastinadores adiam vem do fato de imporem a si mesmos desafios grandes
demais para abordar. Uma boa forma de lidar com esses desafios é dividi-los em
pequenas etapas. Escrever uma dissertação é uma tarefa menos assustadora quando
pensamos em um número de páginas por dia.
ADOTAR PRAZOS
Trabalhos escolares ou a
declaração do Imposto de Renda têm prazos bem definidos, mas muitas outras
tarefas pequenas, não. Se você tem um e-mail que precisa responder, ou precisa
arrumar o seu quarto, defina um prazo final e se atenha a ele.
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