Por: Rafael Mansur
Trabalho em uma escola particular com famílias classe A e B, idade
entre 26 e 37 anos. Vejo de tudo lá, tudo mesmo... e a coisa que mais tenho
visto ultimamente é criança mandando em pai e mãe e pai e mãe tentando mandar
na escola.
Tudo começa quando essa geração adulta de hoje, quando criança,
foi um pouco mimada. Pouco não, super mimada. Eles cresceram junto à ascensão
financeira de boa parte das famílias brasileiras, eles cresceram vendo video
game se popularizar, TV a Cabo se tornar real, carrinho de controle remoto aos
montes. Essa geração cresceu vendo Xou da Xuxa e desejando tudo que lá
aparecia. Essa geração teve a adolescência marcada com a popularização do
Windows 95, popularização do celular e aparecimento dos primeiros e-commerces.
A grande questão é que essa geração não só viu isso, ela desejou isso, e ganhou
muito disso.
Eles foram os primeiros super mimados. Cresceram com a ideia de
que tudo a eles poderia pertencer. Qualquer coisa basta bater o pé no chão,
cruzar os braços e pronto... ganhou.
Certa vez na escola em que trabalho criamos um álbum de
figurinhas no qual os alunos e alunas eram as figurinhas. Deu o maior trabalho
fotografar todo mundo, conferir e mandar para a gráfica. Faltando 1 semana para
lançar o álbum entrou um aluno novo. A mãe (dessas mimadas que estou
falando) pediu para inserir o rapaz no álbum. Já tinhamos impresso mais de
14.000 figurinhas, 300 álbuns, empacotado tudo etc... Eu respond: Não.
A cena a seguir foi assustadora. A mãe falou: mas vai
ter todo mundo menos ele? Se for assim eu não quero esse álbum.
Para visualizar melhor, eu descrevo como estava a postura corporal
da pobrezinha: braços cruzados, cara fechada, um bico enorme e batendo o pé
firme no chão.
(Parecia que eu me via com 9 anos quando minha mãe não me dava as
coisas).
Assustado ainda, recuperei o fôlego e disse, realmente
não vou poder ajudar. Já está tudo impresso, é impossível eu refazer este álbum.
Se você que está lendo o texto achou que a cena da pirraça era
rídicula, veja o que aconteceu:
- Eu pago! Eu
pago todos os álbuns, as figurinhas novas, pago tudo! Mas quero meu filho no
álbum!
Eu disse novamente que era impossível, a mãe pegou as coisas dela
para ir embora, pegou a mochila da criança e com os olhos cheios de lágrima (é
sério) me disse que faria o próprio álbum para o filho dela não sentir.
Você
deve está achando que a criança tinha 7 ou 8 anos. Não! Ela tinha 2. Nem sabia
direito o que era figurinha. A dor toda era da mamãe mimada.
O que me preocupa de fato é saber que este não é um caso
isolado. Não sei se a mãe fez o tal álbum (provavelmente fez), mas ela é
uma adulta que não sabe aceitar as dores que a vida nos oferece, prefere
burlar. Quer ter tudo e acha que tudo a pertence. O problema maior é que uma
criança está sendo criada com esse pensamento, está crescendo com a visão de
mundo mimada.
Melhor (ou pior)... crianças estão sendo criadas com este
pensamento.
Vivem dentro da cultura do descarte, do consumo, vivem em um mundo
camuflado de presentes de compensação de faltas.
A primeira geração de crianças super mimadas cresceu e se
reproduziu. As crianças fruto dessa reprodução estão sendo mimadas ao
triplo. Nos resta agora esperar o dia em que veremos um adulto rolar no chão na
fila do restaurante porque não liberaram ainda sua mesa.
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