Atualmente 25 mil pessoas são infectadas pelo vírus HIV no Brasil. Mas enxergar somente Aids nos soropositivos é reduzi-los ao tamanho microscópico do vírus. Pois a contaminação pelo HIV não impede que esses sujeitos tenham anseios, medos e angústias a respeito da vida, como qualquer outro ser humano.
É comum, após receber a notícia sobre seu diagnóstico, o soropositivo passar algum tempo sem poder enxergar nele nada além do HIV. Muitas vezes, ele chega ao consultório do terapeuta se apresentando como portador do vírus, antes mesmo de dizer o nome, o que faz, de onde veio. Ajudar essa pessoa a encontrar sua identidade fora do vírus e livrá-lo da culpa que o imaginário social o coloca em relação à doença e ao sexo é um dos papéis a serem desempenhados pelo profissional de psicologia. Devemos respeitá-lo e tratá-lo como sujeito.
No caso dos soropositivos, obviamente, o acompanhamento psicoterápico contribui para melhorar sua qualidade de vida e complementar o tratamento do HIV positivo. Por isto não há necessidade de inventar nova psicoterapia para acompanhar esses pacientes. O vírus não cria novo psiquismo, não desenvolve características distintas dos outros seres humanos. O fato de estar infectado não muda nada no trabalho de análise. A especificidade que existe quando se é soropositivo, é que a culpa que ele sente vem carregada de preconceito e de temor, porque está associada ao castigo que leva à morte.
Portanto, é preciso primeiro tirá-lo dessa certeza de que fez algo errado, que fez o que não devia. Além de combater o HIV e todas as doenças oportunistas, o soropositivo precisa ter recursos para garantir uma vida com qualidade e enfrentar um inimigo às vezes muito mais implacável que o vírus: o preconceito. O triste nessa doença é que já o matam antes que ele tenha a morte biológica.
Quando hoje, na prática, sabe-se que estar infectado não significa morte imediata. Ela pode inclusive demorar mais tempo, no caso dos soropositivos, do que a vida de alguém que esteja livre do vírus. A morte ainda pode chegar para o HIV positivo de outra forma, antes mesmo que o vírus possa matá-lo, já que não podemos saber exatamente quando terminam nossas vidas.as indagações sobre o tempo de vida não invalidam a psicoterapia. A morte não é mais que um dos assuntos da vida, assim como o são a sexualidade, as paixões, mãe, pai, irmãos, os abandonos, a falta ou o excesso de dinheiro, as internações. O equívoco é estar presentificando a morte a todo instante, enquanto a vida se faz presente.
Apesar de ainda matar, o conhecimento do diagnóstico não se apresenta mais para o paciente como sinônimo de morte rápida e com muito sofrimento. Assim, o trabalho que antes era praticamente de tratamento emergencial ganhou nova perspectiva da abordagem psicológica. A psicologia no caso do paciente com HIV tem um papel importante e ainda não ocupou o espaço que precisa ocupar
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